Eu sabia que a senhora, que me parecia uma rapariga, por ser anormalmente baixa, e vivaz, não estaria a levar a melhor das vidas. Aquilo que me pedira de manhã - e que eu disse que "não temos" na farmácia, sei de fonte segura que não serve só para limpar cromados da mota.
Mas bom - até aí tudo bem.
Reaparece de tarde, desta vez com o companheiro, com crianças, a mais velha das quais parecia sua filha, mas trata-a pelo nome. Dores de? Ok, estou a ver. Até aí tudo bem.
Eu ando algo lerdo ao balcão, mas era capaz de jurar que houve também contorcionismo no seu discurso, para eu demorar tanto tempo a perceber que era apenas para uma criança, não para um adulto - que julgava ser o tal marido ao mesmo tempo nervoso e embevecido, por não quero pensar demasiado o quê, certamente que sem desconforto por as crianças, atrás, estarem a mexer nos produtos cosméticos, abrindo embalagens seladas.
O certo é que eu - comme d'habitude - também nem reparei nesse vendaval de à-vontade das miúdas. Portanto, diríamos que... até aí tudo bem, na minha mente.
Agora, sendo que eu não tinha percebido bem o caso, e lhe tinha trazido, para além de um xarope para a miúda (enferma de entretenimento no balcão da Cosmética), ibuprofeno 400 mg para o mítico adulto, ela teve esta última embalagem nas mãos. Não me recordo bem em retrospectiva, mas certamente que algo de errado havia com aquelas mãos. Pequenas, nervosas, dedos curtos, unhas curtas. Quase que estranhamente pequenas - como ela própria. E vermelhas, de um vermelho pouco sano, intercalado com um amarelo vivo, galináceo, e, percebi depois em retrospectiva - luzidias.
O xarope foi, tal como a minha colega foi aceder ao ao sítio dos batons para travar a abordagem. E eu, neste ponto, ainda estava na minha.
Mas a caixa de ibuprofeno 400 mg voltou para trás. E havia agora algo de estranho nela, definitivamente. Estranho ao toque. Ligeiramente arrepiante. Gorduroso, sem razão para isso.
Procurando o raio de luz certo para a caixa, vi que estava manchada. Tinha impressões digitais demasiado nítidas, a mão desavisada encontrava naqulea superfície uma resistência novamente, uma confirmação - um nojo imenso.
Acabei por a passar toda com álcool, para tirar as dedadas. O que teriam as mãos daquela senhora? Que espécie de alenígena estava escondido perante os meus olhos? Toda aquela famíia era demasiado desassossegada, demasiado estranha. Com dedução sherlockiana confirmei o que suspeitava - os batons onde as miúdas haviam mexido estavam também cobertos por aquela camada arrepiante, que queremos que seja impressão desmentida pelo plástico limpo, mas nunca é.
"Ciganos", disseram-me depois. Mas eu acho que é que são mesmo de outro planeta. Seria o Jabba the Hut que tinha as tais dores? Hum...
Yap - vai para o Grossed Out At Work Hall of Fame. Mais que merecido.
No comments:
Post a Comment